quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sasányìn – O culto as folhas sagradas.


Em uma casa de candomblé, um dos elementos principais e que requer grande sabedoria são as folhas. Sem esse entendimento não haverá a presença do Orixá, o velho provérbio das casas: Kó sí ewé, kó sí Orixá! Sem folha não há Orixá.
Ter os conhecimentos das folhas que vão participar dos banhos purificatórios, combiná-las com suas propriedades específicas adequadas a cada Orixá, a cada Orí, na confecção do adòsú, na preparação da ení do futuro ìyàwó como forma de proteção e fortalecimento, no àgbo do banho do iyawo para purificá-lo, como também como bebida e remédio e o próprio transe na incorporação da energia, estabecendo equilíbrio e inconciência. A quantidade de folhas no àgbo varia de casa para casa podendo ser quatro folhas ou múltiplos de quatro e combinando a essência.(quente/fria, macho/femea).
O Olosányìn é o responsável pelas ervas, folhas e vegetais em geral, este cargo está diretamente ligado aos zeladores da casa, dada a sua importância e responsabilidade, caso não existe um Olosáyìn ou Babalossayìn, o próprio Babalorixá ou Iyalorixá cumprirá essa função, não podendo delegar a outro filho.
As folhas quando chegam na casa devem primeiramente descansar por algum tempo, depois devem ser bem lavadas por quem irá macerá-las, são colocadas sobre a ení para que o Babalorixá ou Iyalorixá possa rezá-las com cântigos das folhas ou de cada fôlha especificamente de frente para os Ìyàwós que se encontram Kúnlè (ajoelhados). O Bàbá ou Ìyá abrirá um Obí, confirmará as folhas escolhidas, mastigará o obí espargindo-os sobre as folhas com seu hálito, seu axé, suas palavras mágicas, para logo depois soltar as folhas para macerar, separando os galhos, caules e folhas feias para o lado, em silêncio, com uma vela acesa à frente, sem pressa e rápido. Vale ressaltar que após a masseração, o banho descansa um pouco e o que sobrou do banho, já cuado, irá para o ajubó de Òssayìn da casa, para depois ser despachado nas águas do rio ou mato.
Todas as obrigações, além da iniciação, em que tiver sacrifício de animais de quatro pés, serão sempre precedidos dessa liturgia sagrada, e também, sempre com louvação a Pai Ossayìn, no qual chamamos comumente de Sasányìn ou seja Asá Òsányìn, que são feitos no primeiro dia após iniciação, no terceiro e sétimo dia. Há também o ebó de carrego de toda a obrigação que o próprio Iyawo participa que é entregue a Exú Òdàrà em seu ilê, para que de tudo certo e proporcione tranquilidade aos rituais secretos internos do axé.
Òsányìn Elesekan, Irúmalé àgbénigi, Òsányìn Onísegùn Ewé ó Asà! Orún ejé.
“Korin Ewé”, isto é, cantar Folhas em louvar a Ossayìn, aos animais que participaram da obrigação, aos Babás, Iyás, ancestrais, aos egbons, sua raiz e axé, Ogans e Ekedis, aos Orixás e ojubós da casa, a Orunmilá e por fim a Oxalá. Finaliza-se o culto com os cântigos das três águas de axé, reverenciando o Màrìwò e Ósányìn.
“Ògbèri nko mo Màrìwò” – O não-iniciado não pode conhecer o mistério do Márìwò.
Algumas casas tradicionais tem um esquema fixo de folhas combinadas para banhos de àgbo pra casa, para obrigação, para o Axé, para o osé, etc.
Um dado litúrgico importantíssimo é que as folhas acompanham os assentamentos de todo e qualquer Orixá quando estes vão comer, acomodando o assentamento, como também o Igbá Orí quando o Orí vai comer. As folhas combinam de uma forma mágica misturadas e essencialmente equilibradas.
Pai Òssayìn gosta de um fumo de rôlo no cachimbinho de barro, se disfarça num lagarto, num galho seco que passarinho pousa, pula numa perna só, gosta de vinho de palma, fradinho torrado com mel, frutas, alquimista, solitário e um grande Pai que está presente dentro do axé das casas ketu/Nagô. Sãos as folhas secas que nos fornecem um bom defumador para inúmeras finalidaes, são com folhas que fazemos vários tipos de ebós de sacudimento de egun, e quantas dietas fazemos com folhas? vários comidas de Orixás.
Ewé Òrìsà!

Fernando D’Osogiyan

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